sexta-feira, 29 de março de 2013

ARTAXIAS IV (422 – 428 d.C.)

Artaxias IV ou Artashir IV, que também é conhecido como Artaxias, Artashes,  Ardases, Ardasir e Artases (armênio: Արտաշես, Artashes), foi um rei armênio vassalo do Império Sassânida de 422 até 428. Artaxias IV foi o último rei da dinastia dos Arsácidas e o último rei da Armênia na Antiguidade. Artaxias IV era filho do rei Vramshapuh (392-417) e sobrinho do rei Khosrov IV (387-392 e 417-718), a quem sucedeu. Artaxias IV nasceu em 405 e tinha 17 anos quando ascendeu ao trono. A identidade de sua mãe é desconhecida. Ela pode ter sido a rainha consorte de Vramshapuh ou uma mulher de seu harém. Artaxias IV nasceu e cresceu na Armênia e pouco se sabe sobre sua vida, antes de sua realeza.
A Armênia (Persarmênia) no reinado de Artaxias IV
O antigo reino da Armênia foi dividido em dois reinos distintos em 387 d.C. estando a parte ocidental sob suserania do Império Bizantino (romano oriental) e a oriental sob a do Império Sassânida (persa). Com a morte do rei Arsaces III em 389, o reino ocidental foi incorporado ao Império Bizantino e transformado em província. O reino oriental seguiu sob o governo da dinastia dos Arsácidas tutelados pelos reis persas. Durante o reinado de Vramshapuh (392 – 417) houve um intenso movimento cristão religioso e cultural que eclodiu com a criação do alfabeto armênio em 405 e foi o último lampejo de glória do reino armênio na Antiguidade. Sahak Partev, catholicos (patriarca) da Igreja Armênia, visitou a corte sassânida e solicitou ao rei Yazdegerd I a liberação de Khosrov IV, tio de Arsaces, do seu exílio político e sua restauração ao trono armênio, no que foi atendido. Porém o segundo reinado de Khosrov IV foi curto (cerca de um ano) uma vez que ele morreu em 418. Os nakharars (nobres feudais) assumiram interinamente a administração do reino.
Guerreiros armênios


Um Reino Sem Rei
Por vários anos após a sua ascensão o rei sassânida Yazdegerd I tinha sido tolerante com os cristãos e relativamente duro contra os nobres persas e os magos (sacerdotes do zoroastrismo, religião oficial dos Sassânidas). As igrejas da Assíria, assim como as da Armênia, da Ibéria Caucasiana e da Albânia Caucasiana tinham seus governos autônomos, com um chefe supremo local, o catholicos (patriarca). Mas quando, em 418, um bispo assírio fanático, Abda, ateou fogo em um templo zoroastriano em Susã, capital do Elam, o rei voltou-se contra os cristãos e os perseguiu. Em nítido contraste com sua amigável atitude anterior, ele agora parecia resolvido a acabar com o cristianismo e visando realizar este propósito na Armênia, ele nomeou seu próprio filho, Shahpur, como governador do país em 419. Quando Yazdegerd I foi assassinato em 421, Shahpur voltou para casa para reivindicar o trono, mas ele também foi morto por adversários. Bahram V, outro filho de Yazdegerd I, assumiu o trono sassânida e as hostilidades contra o Império Romano e a perseguição dos cristãos foram intensificadas. Romanos e persas voltaram a se enfrentar nas terras armênias. A expedição persa na Armênia esteve sob o comando de Mihr-Nerseh, que era um general capaz e hábil diplomata, porém ele foi derrotado pelos romanos em Arzanen. Depois de alguns movimentos indecisos, as operações foram suspensas em 422, sendo assinado um tratado de paz, chamado de Tratado dos Cem Anos, nos termos do qual, por um período de cem anos, os persas concediam plena liberdade religiosa para os cristãos em suas terras, enquanto romanos prometiam os mesmos direitos para os devotos de Zoroastro dentro do Império Romano. No espírito deste tratado, Bahram V procurou aplacar os armênios nomeando Artaxias, então com dezessete anos, como o novo rei armênio. O catholicos Sahak tomara a iniciativa e enviara os nobres Vardan Mamikonian e Smbat Bagratuni III à corte sassânida. Embora jovem, Artaxias era da casa dos Arsácidas, que governava a Armênia há mais de trezentos anos, e filho do estimado rei Vramshapuh.
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Bandeira dos Arsácidas, dinastia a que pertencia Artaxias IV

Reino Dividido
Embora Artaxias IV tivesse o influente apoio do catholicos Sahak e fosse reconhecido pelos nakharars como seu rei, as tendências anárquicas dos nobres estavam além de seu controle. Os principais membros da nobreza logo retomaram suas intrigas sob o pretexto de desgostarem dos vícios juvenis do rei. O feudalismo dos nakharars, a antiga fraqueza que assediava a unidade do país e que a monarquia nunca conseguira esmagar, voltou a tumultuar o que restara do antigo reino da Armênia. Um rei armênio era reconhecido pelos nobres como seu chefe supremo; ante sua convocação, os nakharars deveriam reunir suas forças em situações de emergência. Esses nobres eram seus vassalos, mesmo quando a Armênia estava inteiramente em vassalagem a um  ou outro império. Quando o monarca era poderoso o suficiente, sua vontade era a lei, e a vida dos nobres estava em suas mãos; um nakharar rebelde poderia ser punido com a morte ou a perda da totalidade ou de parte dos seus bens. Porém, devido à sua juventude e à fraqueza de caráter, Artaxias IV foi incapaz de lidar com essa aristocracia intratável. Sahak apelou várias vezes aos nakharars para que respeitassem a autoridade do rei como chefe supremo, para cooperar com ele e ser seu aliado, mas esses apelos foram em vão.

O Fim do Reino da Armênia
Não dando nenhuma atenção ao sábio argumento de Sahak de que "um cordeiro doente é preferível a um lobo robusto", os nakharars, cuja confiança tanto no rei e quanto na monarquia diminuiu ao ponto deles preferirem governar seus feudos diretamente debaixo da autoridade dos Sassânidas, solicitaram a deposição de Artaxias IV ao rei Bahram V. Artaxias e Sahak foram convocados pelo rei a Ctesifonte, a capital persa. Os argumentos de Sahak foram inúteis e o rei sassânida privou a Artaxias de seu título e poder régios em 428. A Armênia foi anexada e se tornou uma satrápia do Império Persa Sassânida. O persa Veh Mihr Shapur foi colocado marzban da Armênia. Um marzban é um “governador de fronteira”, semelhante aos antigos margraves e marqueses europeus. Sahak foi deposto do ministério de catholicos e em seu lugar foi posto um tal Surmak, armênio pró-sassânida. O destino de Artaxias IV é desconhecido após sua deposição. Com a queda de Artaxias IV, a realeza da dinastia armênia dos Arsácidas cessou após mais de trezentos anos de governo. A corte armênia havia tido seu esplendor, às vezes, semelhante às sofisticadas e ritualísticas cortes dos reis medos e persas com paramentos e serviços de mesa luxuosos, vestes coloridas  pesadamente bordadas em ouro e prata e cravejadas de pedras preciosas; cerimônias altamente formais. “Mas tudo isso, através da recalcitrância da nobreza armênia, já tinha chegado ao fim”, como conclui o historiador Vahan M. Kurkijian. Extingui-se assim o reino armênio na Antiguidade após quase mil anos de existência. O reino da Armênia ressurgirá séculos depois, na Idade Média, com a dinastia dos Bagratuni.
A Armênia após a deposição de Artaxias IV: tanto do lado romano como lado sassânida é uma província


FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Artaxias_IV
http://fr.wikipedia.org/wiki/Artaxias_IV_d%27Arm%C3%A9nie
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
http://fr.wikipedia.org/wiki/Veh_Mihr_Chapour
http://www.armenica.org/cgi-bin/armenica.cgi?936325130052865;=1=3==Armenia==1=3=AAA
http://en.wikipedia.org/wiki/Military_history_of_Armenia

VRAMSHAPUH (392 – 417 d.C.)


Vramshapuh (armênio: Վռամշապուհ), cujo nome é também grafado como Vramshapouh, Vramšapuh, Vrhamshapuh, Vram-Shapouh, Bahram Shapur e Bahram-Shahpur foi um rei armênio vassalo do Império Sassânida de 389 até 417. O nome que Vramshapuh tinha antes de sua realeza é desconhecido, sendo que ele é conhecido apenas pelo seu nome régio. O nome Vramshapuh é a armenização e aglutinação dos nomes persas Bahram e Shapur. Quando Vramshapuh sucedeu seu irmão Khosrov IV em 392 como rei vassalo dos Sassânidas na Armênia, Vramshapuh assumiu este nome em homenagem ao rei sassânida Bahram IV. Os nomes Bahram e Shapur eram nomes dinásticos da dinastia sassânida e demonstram a influência político-cultural que os Sassânidas tinham sobre os monarcas armênios. Ele foi o último grande rei arsácida da antiga Armênia em cujo reinado os armênios tiveram um importante movimento religioso e cultural. As origens exatas do Vramshapuh são desconhecidas. Ele nasceu e cresceu na Armênia e pouco se sabe sobre sua vida antes de seu reinado. O historiador armênio Ghazar Parpetsi (séculos V e VI) em sua História da Armênia apresenta Vramshapuh como um príncipe da dinastia dos Arsácidas sem mencionar seu grau de parentesco. Ghazar Parpetsi também cita-o como irmão de Khosrov IV e pai de Artaxias IV (Artashir IV). De acordo com genealogias modernas, Vramshapuh é um dos filhos do rei armênio Varazdat (374 - 378).

Rei Sem Coroa
Após anos de impasses e conflitos, romanos e persas decidiram dividir a Armênia entre si em 387 d.C. O lado sob a suserania romana, a Armênia ocidental, foi governado por Arsaces III e quando esse morreu o país foi transformado em província romana. O lado oriental, sob a tutela dos persas, é comumente chamado de Persarmênia, e o rei Sapor III, atendendo a solicitação da nobreza armênia, designa como governante o jovem Khosrov IV, da antiga casa real dos Arsácidas. Por volta de em 389 o rei persa Bahram IV, motivado por denúncias da nobreza armênia contra Khosrov IV, que alegavam sua simpatia para com o Império Romano, depõe o rei e o exila para uma prisão em Ctesifonte, a capital sassânida. Os armênios solicitam ao rei sassânida outro rei da dinastia dos Arsácidas para governar a Armênia. Bahram IV concorda com seu pedido, entronizando a Vramshapuh, irmão de Khosrov IV, como o novo monarca vassalo dos Sassânidas na Armênia. Não obstante, Bahram IV não confere ao dinasta armênio o título de rei (tagavor em armênio). Bahram IV não impôs o zoroastrismo, religião oficial dos persas, aos armênios que seguiam o cristianismo, inclusive Vramshapuh. Mesrop Mashtots continuou em seu papel de escriba real e secretário imperial, cargos que ocupava desde o reinado de Khosrov IV. Sahak, filho do grande catholicos (patriarca) Nerses, continou como patriarca da Igreja Armênia durante o reinado de Vramshapuh. Sahak e Vramshapuh eram parentes distantes por meio da avó paterna de Sahak, Bambish, uma princesa arsácida.
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Moeda do reinado de Bahram IV que colocou Vramshapuh como dinasta da Armênia
Vramshapuh manteve relações pacíficas com o Império Bizantino (Romano Oriental) e o Império Sassânida (Persa). Ele também é conhecido pela missão de paz bem sucedida na Mesopotâmia para mediar entre a persas e romanos. Vramshapuh conseguiu ganhar a confiança do rei persa, bem como a dos armênios que eram pró-romanos. Através da manutenção de boas relações e de mediar a paz para ambos os impérios, Vramshapuh foi capaz de estabelecer uma paz interna que contribuiu para a melhoria do país. O cristianismo foi capaz de penetrar mais na cultura armênia, o que conteve a propagação das crenças pagãs. Em cerca de 402, o rei persa Yazdegerd I conferiu a Vramshapuh o título de rei. O rei sassânida ratificou a Sahak como patriarca cristão dos armênios e Vramshapuh promoveu o genro de Sahak para o alto cargo de general. Vramshapuh nomeou, de acordo com suas prerrogativas reais, o mardpet, o guardião do seu harém (que também era o administrador do domínio real) e o apset que colocou a coroa na sua cabeça Vramshapuh, na sua cerimônia de coroação. Em seu reinado, Vramshapuh foi considerado sábio e beneficente sendo seu governo um período de paz e prosperidade religiosa e cultural, o último lampejo da força e beleza do reino da Armênia Arsácida.
Vramshapuh e sua corte

A Criação do Alfabeto Armênio: Uma Revolução Cultural
O reinado de Vramshapuh é mais conhecido pelo seu patrocínio  a Mesrop e Sahak para a criação do alfabeto armênio em 405-406. A criação do alfabeto armênio trouxe um último momento de glória para os Arsácidas. Vramshapuh enviou Sahak à corte sassânida para pedir autorização para a criação de um alfabeto armênio. Vramshapuh se interessou pelo projeto e se tornou material e moralmente o grande patrono do projeto de alfabetização. Mesrop Mashtots tinha estudado em uma das escolas estabelecidas pelo patriarca Nerses adquirindo, dentre outras coisas, o domínio das línguas grega, siríaca e persa. Depois de vários anos de serviço no exército, ele foi nomeado secretário real. Mas ele não estava satisfeito nesta posição; aspirando a algo mais transcendental, ele renunciou a seu posto e entrou para o serviço da Igreja. Ele tinha cerca de 40 anos de idade em 394, quando ele assumiu o seu primeiro trabalho em Goghten, a Agoulis atual, onde começou a ensinar e pregar com vários colegas. Depois disso, mudou-se para outras áreas, encontrando escuridão espiritual dos distritos montanhosos do norte e do leste do país, onde o paganismo tinha numerosos seguidores.
SAINT MESROP MASHTOTS
Mesrop Mashtots
A Armênia foi o primeiro Estado a adotar o cristianismo como religião oficial (301 d.C.), o que ocorreu durante o reinado de Tiridates III (287 – 330). Porém, a disseminação da fé cristã foi lenta por que a Igreja e a sociedade armênia não interagiam plenamente. Leituras, orações e cânticos eram conduzidos em siríaco ou grego. Os clérigos eram em sua maioria estrangeiros que não estavam familiarizados com a língua armênia. Traduções ocasionais não se aproveitavam. Segundo o historiador armênio Fausto de Bizâncio, as comunidades de fé não podiam memorizar "qualquer coisa, nem a metade”. Diante de tal problema, Mesrop procurou Sahak Partev, o patriarca da Igreja, e confidenciou sua preocupação, a qual Sahak, que era um líder acadêmico e zeloso, também tinha. Eles concordaram que sermões, orações e cânticos deviam ser ouvidos no língua armênia até mesmo devia ser providenciada uma tradução das Sagradas Escrituras para o vernáculo. Porém, os armênios não tinham alfabeto com que escrevê-los. O velho alfabeto cuneiforme ou hieroglífico, outrora utilizado em templos e nos tribunais, havia sido descartado e substituído por caracteres persas ou gregos ou siríacos. Sendo assim para tornar a fé cristã acessível e compreensível ao povo um alfabeto era necessário. 
Sahak Partev
Por sugestão do rei Vramshapuh, Mesrop foi buscar um antigo conjunto de caracteres armênios na biblioteca de um bispo sírio chamado Daniel em Edessa. Depois de dois anos de experiência, os caracteres se mostraram inadequados. Os jovens discípulos de Mesrop dedicaram-se a pesquisar os caracteres ideais. Havia dois centros, Samosat, no Eufrates, no território bizantino, e Edessa (Urfa), na Síria sob domínio persa, onde os jovens estudantes foram pesquisar. Por fim, após anos de intenso trabalho, preocupação e oração, em 405 o alfabeto armênio ficou pronto. De acordo com alguns cronistas armênios antigos, pela adição de 12 letras para as do alfabeto de Daniel de Edessa (sete vogais e cinco consoantes), Mesrop criou o que se tornou o alfabeto armênio atual (as letras "o" e "f" foram adicionados no século XII). Um especialista em caligrafia grega, Rhupanus, arranjou as letras, 36 ao todo, segundo a ordem grega. O alfabeto corresponde perfeitamente às exigências fonéticas da língua armênia, e através do seu uso pode-se dar o som exato de quase todas as palavras em qualquer outra língua. Mesrop também produziu uma gramática que fixou por escrito as regras gramaticais do armênio. O eminente lingüista H. Ajarian defende que Mesrop, depois de descartar por completo os caracteres de Daniel, inventou por si mesmo todas as letras do alfabeto armênio.
Monumento a Mesrop Mashtots, inventor do alfabeto armênio
em Yerevan, capital armênia
Segundo o historiador Vahan M. Kurkjian, a tradição de que o alfabeto armênio foi uma criação miraculosa foi conveniente a fim de pacificar os eclesiásticos gregos e o imperador Teodósio II, que viu nele uma nova arma pelo qual o espírito nacional armênio poderia ser reforçado, uma vez que no lado romano, os armênios não tinham mais um reino e faziam parte de uma província. Certamente a invenção do alfabeto armênio foi um dos canais de preservação da nação, apesar de séculos de invasões e tumultos políticos. O alfabeto armênio foi uma grande ferramenta para unificar os armênios que viviam no Império Bizantino e no Império Sassânida e para dar uma identidade cristã para o povo armênio. É também a chave para a sobrevivência da cultura e identidade armênia, proporcionando forças coesivas na sociedade com um padrão em torno do que se concentrar ante tantas pressões externas e internas. Para além das conquistas culturais e políticas, o grande motivo da criação do alfabeto armênio era a propagação e consolidação do cristianismo. O Antigo e o Novo Testamentos foram traduzidos para o armênio, e incentivou-se os clérigos mais jovens a traduzir as obras dos Pais da Igreja primitiva: os escritos de Efrém da Síria, o Hexameron de Basílio de Cesaréia, as homilias de João Crisóstomo, a História Eclesiástica de Eusébio, a História da Conversão de Edessa, a correspondência (apócrifa) de Jesus com Abgar pelo sírio Laboubna, a liturgia siríaca e a de São Basílio. Há hinos atribuídos a Mesrop e Sahak.
Monumento a Sahak Partev e Mesrop Mashtots em Yerevan
O rei Vramshapuh providenciou fundos e assistência a empreitada, apoiando Mesrop e Sahak na realização de missões educacionais e religiosas no ensino do novo alfabeto aos armênios. Isto fez com que os armênios entendessem melhor o cristianismo e a leitura das Escrituras, em especial, a pregação do cristianismo em seções ainda pagãs do país. Tal fato ter ocorrido no reinado de Vramshapuh e ter sido incentivado pelo rei tornou-o célebre na lista dos governantes armênios. A criação do alfabeto armênio durante o reinado de Vramshapuh marcou um momento simbólico na história do país que resultou no florescimento da literatura armênia. Mas esse alvorecer cultural começo a sentir oposição política no lado bizantino, onde o governador grego da Armênia Ocidental proibiu o ensino de letras armênias. Uma delegação liderada por Mesrop e Vardan Mamikonian foi enviada a Constantinopla para protestar contra esta decisão e obtiveram êxito. O imperador Teodósio II e sua irmã e cogovernante Pulquéria não só concederam a permissão para o ensino do novo alfabeto na Armênia, como financiaram o projeto.
Imagem comemorativa da criação do alfabeto armênio:
O rei Vramshapuh e seu séquito, com o patriarca Sahak Partev segurando
as Escrituras e Mesrop Mashtots com o alfabeto armênio
Após esse momento, pouco se sabe sobre os anos restantes do reinado de Vramshapuh. Ele morreu em 417 deixando seu filho, Artaxias IV, como virtual sucessor, porém sendo muito jovem para sucedê-lo. Após a morte de Vramshapuh, o patriarca Sahak visitou a corte sassânida e solicitou ao rei Yazdegerd I a liberação de Khosrov IV do seu exílio político e sua restauração ao trono armênio, o que de fato aconteceu. Porém o segundo reinado de Khosrov IV foi curto (417 – 418). Sendo Artaxias IV ainda menor, a Armênia foi governada pela administração conjunta dos persas e dos nakharars armênios até que o filho de Vramshapuh assumisse o trono em 422. No ano de 2005 ocorreu o 1600º aniversário da invenção do alfabeto armênio. Para comemorar a ocasião, o Banco Central da Armênia emitiu moedas comemorativas de prata com o valor nominal de 100 Dram, dedicados a Vramshapuh.
Moeda comemorativa com a efígie de Vramshapuh



FONTES:
http://remacle.org/bloodwolf/historiens/lazare/histoire.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Vramshapuh
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bahramiv.jpg
http://www.hyeetch.nareg.com.au/armenians/large/vramshabouh.GIF
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ru/f/fa/Vramshapuh.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/be/St_sahak_partev.jpg/280px-St_sahak_partev.jpg
http://sphotos-a.xx.fbcdn.net/hphotos-ash4/295264_386419864725627_1581062235_n.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/AM_100_dram_Ag_2005_all_Vramshapuh_b.png








segunda-feira, 25 de março de 2013

KHOSROV IV (387 – 392 e 417 - 418 d.C.)

Khosrov IV (armênio: Խոսրով) foi um rei da Armênia de 387 até 392, vassalo do Império Sassânida (persa). As origens exatas do Khosrov IV são desconhecidas. Os historiadores armênios do século V, Fausto de Bizâncio e Moisés de Chorene, relatam Khosrov IV como um príncipe da dinastia dos Arsácidas, sem mencionar o grau de seu parentesco. Outro historiador armênio, Ghazar Parpetsi, que viveu entre os séculos V e VI, na obra História da Armênia menciona-o também como um jovem príncipe arsácida, o irmão do futuro rei Vramshapuh e o tio de Artaxias IV (Artashir IV). De acordo com genealogias modernas, Khosrov IV é apresentado como sendo um dos filhos de Varasdates (Varazdat). Seu nome é comum em diversas casas reais do antigo Oriente. Khosrov IV nasceu e cresceu na Armênia e pouco se sabe sobre sua vida antes de seu reinado. O contexto do reinado de Khosrov IV está associado com o reinado dos dois últimos governantes da Armênia, Arsaces III (Arshak III) e seu irmão, Vologeses III (Vagharsh III), que governaram juntos como correis sob a regência do poderoso Manuel Mamikonian, cuja família era pró-romana. O Império Romano e o Império Sassânida há anos disputavam a suserania sobre a Armênia, considerada um estratégico estado-tampão por ambas as potências.
O Império Sassânida
Em 386, Vologeses III morreu sem deixar um herdeiro e Arsaces III tornou-se o único governante da Armênia. Manuel, que era o verdadeiro esteio político da Armênia, também morreu. A posição de Arsaces III se enfraqueceu devido às ameaças de invasão persa e dos conflitos internos das belicosas famílias da nobreza armênia. O governo persa de Sapor III era tolerante para com os cristãos (Sapor II os perseguia), o que deve ter contribuído para estabilizar as relações com os romanos bem como angariar a simpatia dos armênios. A constante ameaça de invasão sassânida à Armênia levou o imperador romano Teodósio I e o rei sassânida Sapor III a negociar um tratado chamado a Paz de Acilisene (c. de 387 d.C.) no qual o reino armênio foi dividido entre os dois impérios: a Armênia Ocidental estaria sob domínio romano e Armênia Oriental estaria sob domínio sassânida. Arsaces III continuou a governar seu pequeno reino na Armênia Ocidental até 389 quando morreu, sem deixar herdeiro. A Armênia Ocidental foi anexada e tornou-se uma província do Império Romano do Oriente (Bizantino).
File:Persian Armenia.gif
A Armênia após a morte de Arsaces III: a parte ocidental virou parte do Império Romano 
do Oriente (Bizantino) e a oriental, a chamada Persarmênia, governada por Khosrov IV

Um Rei para a Armênia
Após a divisão da Armênia e da morte de Arsaces III, muitos armênios que viviam na Armênia Ocidental se mudaram para Armênia Oriental, chamada também de Persiarmênia (Parskahayastan). Essa evasão incluiu muitos dos nakharars (nobreza feudal armênia). Os armênios que viviam sob o domínio sassânida solicitaram a Sapor III um rei da casa dos Arsácidas (Arshakuni em armênio). Sapor III atendeu a solicitação dos armênios e nomeou Khosrov IV como rei da Armênia. Após a nomeação de Khosrov IV, Sapor III colocou uma coroa sobre a cabeça do jovem príncipe. Khosrov IV em seu reino manteve as tradicionais capitais arsácidas de Artashat e Dvin. A divisão da Armênia e o reinado de Khosrov IV marcou a última etapa do reinado da dinastia arsácida na Armênia. Como um sinal de sua boa vontade para com a Persarmênia, Sapor III deu sua irmã Zruanduxt para Khosrov IV como sua esposa e rainha consorte, além de um grande exército para proteger a Armênia e um tutor para Khosrov IV chamado Zik. Pouco se sabe sobre a relação Khosrov IV com Zruanduxt. De acordo com genealogias modernas, Zruanduxt e Khosrov IV tiveram dois filhos: Tigranes e Arsaces. 
Ruínas de Artashat, antiga capital armênia
Khosrov IV foi um monarca cristão vassalo de um estado pagão cuja religião oficial era o zoroastrismo. Mesmo assim, Sapor III não interveio na religião da Armênia como fizera outrora um predecessor seu, Sapor II, que perseguia os cristãos. Em seu reinado, Khosrov IV procurou afirmar grandemente sua autoridade real, mesmo sendo um rei cliente do Império Sassânida. No primeiro ano do seu reinado, ele nomeou Sahak, conhecido como Santo Isaac da Armênia, como o catholicos (patriarca) da Igreja Armênia. Sahak foi o último patriarca descendente de são Gregório, o Iluminador, evangelizador da Armênia, e também era parente distante de Khosrov IV, sendo a avó paterna de Sahak uma princesa arsácida, Bambish. Ela era uma irmã do rei Tigranes VII (339-350) e filha do rei Khosrov III (330-339). Em 387, São Mesrop Mashtots, por conta de sua piedade e seu aprendizado profundo foi nomeado por Khosrov IV como seu secretário. O dever de Mesrop era o de escrever em caracteres gregos e persas os decretos e editos do reino. O rei restaurou muitos dos nakharars à sua antiga condição de nobreza e ele era bem conhecido por suas simpatias para com o Império Bizantino (Romano Oriental), em particular ao imperador Teodósio I e sua família.
Ilustração de um nakharar armênio


A Queda do Rei
O bom relacionamento que existia entre a Armênia e o Império Sassânida não durou muito, pois Sapor III faleceu logo, em 388. Ele foi sucedido por seu filho Bahram IV que era considerado sobrinho de Khosrov IV pelo seu casamento com a irmã do falecido rei. Porém, isso não impediu a Bahram IV de se mostrar como suserano para seu “tio”. Segundo o historiador armênio Ghazar Parpertsi em sua História da Armênia, os nakharars não demoraram a ficar insatisfeitos com Khosrov IV  e o denunciaram ao rei persa como traidor simpatizante do Império Bizantino. Em 392 Bahram IV destronou a Khosrov IV e colocou-o em confinamento na Ctesifonte, a capital sassânida. Bahram IV estava insatisfeito com Khosrov IV devido a veemente afirmação de sua autoridade real que, embora fosse um monarca vassalo, praticou vários atos  sem consultar o rei persa, seu suserano. Bahram IV substituiu Khosrov IV por seu irmão Vramshapuh. O destino da esposa e filhos de Khosrov IV após este momento é desconhecido. A libertação de Khosrov IV do exílio político está associada com a morte de Vramshapuh ou com os últimos anos do reinado de seu irmão, que morreu em 417. Após a morte de Vramshapuh, o patriarca Sahak visitou a corte do rei sassânida Yazdegerd I para solicitar a liberação de Khosrov IV, no que foi atendido. Quando Khosrov IV foi libertado, possivelmente ele atuou novamente como rei da Armênia em 417. Ele pode ter reinado novamente uma vez que seu sobrinho, Artaxias IV, era muito jovem para suceder a seu pai. O possível segundo reinado de Khosrov IV pode ter durado apenas até um ano, uma vez que ele morreu em 418. A partir daí a Armênia esteve sob o domínio direto das nakharars e da dinastia sassânida até 422 quando Artaxias IV foi nomeado rei da Armênia por Yazdegerd I.

FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Khosrov_IV_of_Armenia
http://wowarmenia.ru/wp-content/uploads/2009/04/063_1_kladka_artashat_01.jpg
http://faculty.txwes.edu/csmeller/human-experience/ExpData09/02GrecoRoman/GrRmMAPs/MAP_Sassanid.gif

domingo, 24 de março de 2013

ARSACES III E VOLOGESES III (378 – 389 d.C.)

A statuete from ancient Armenia capital Artashat, 2-1 BC
Estátua dos séculos II e I a.C. proveniente de
 Artashat, a antiga capital armênia, que evidencia
a influência greco-romana na região
Irmãos e Reis
Arsaces III (em armênio Արշակ Գ, Arshak III) e Vologeses III (também conhecido como Vologases III; em armênio Vagharsh [Վաղարշ] III) foram reis da dinastia dos Arsácidas que governaram conjuntamente a Armênia de 378 até 386 tendo Arsaces III governado até 389. Eles eram filhos do rei Pap (370 – 374) com sua esposa, a nobre armênia Zarmandukht. Arsaces era o primogênito. Seus avós conhecidos são os reis Arsaces II (350 – 368) e sua esposa Pharantzem. Eles nasceram em uma data desconhecida no reinado de seu pai e foram criados na Armênia. Depois do assassinato de Pap em 374, sendo seus filhos jovens demais para governar, o imperador romano Valente estabeleceu a Varazdat (Varasdates), sobrinho do rei falecido, para ocupar o trono armênio. Seu primo, que era um jovem muito conhecido por seus dotes físicos e mentais, vivera em Roma. Varazdat começou a governar sob a regência do nobre Musel Mamikonian, cuja família era pró-romana. Em 378, após turbulentos quatro anos de reinado, Varazdat é derrubado pela insurreição do nobre Manuel Mamikonian, comandante do exército, e irmão de Musel Mamikonian, a quem Varazdat mandara assassinar. Manuel, enfurecido contra o rei, com uma força militar expulsou a Varazdat da Armênia de volta para Roma. Manuel levantou a Arsaces III e Vologeses III ao trono como correis da Armênia, sob a regência nominal de sua mãe, Zarmandukht.

Manuel, o Regente
Ancient Armenia Goddess Anahit gold mask
Máscara de ouro da
deusa armênia Anahit 
Para acabar com a anarquia política no país, Manuel, atuando poderosamente como governante de fato da Armênia, casou Arsaces III com sua filha Vardanduxt e ele casou Vologeses III com a filha de Sahak do influente clã dos Bagratuni. O governo de Mamikonian trouxe certa paz e estabilidade à Armênia tendo Manuel governado o país com sabedoria. Embora tivesse as rédeas do poder em suas mãos, ele tratou Arsaces III, Vologeses III e Zarmandukht com toda honra. Arsaces III e Vologeses III foram tratados por Manuel como se fossem seus próprios filhos. No ano de 383 o rei sassânida Sapor III enviou vários presentes régios para Manuel e vários membros da aristocracia da Armênia. Isto incluiu uma coroa em um manto real para Zarmandukht e um corpo de cavalaria comandado pelo marzban (governador de fronteiras) Suren . Manuel permaneceu neutro em relação aos romanos e persas. No campo religioso, Arsaces e Vologeses III seguiram a linha teológica (arianismo) de seus predecessores. Mesmo o cristianismo sendo a religião oficial da Armênia, havia resquícios de muitas práticas pagãs como adoração ao sol e casamentos endogâmicos e a presença do zoroastrismo, a religião oficial do Império Persa Sassânida, da qual um certo Katir era zeloso sacerdote e proselitista na Armênia. Se registra que em Bhagavan havia um templo do fogo (zoroastriano) onde foram destruídas estátuas ali colocadas por Vologeses III. Em 386, Vologeses morreu sem deixar herdeiros e Arsaces III tornou-se o único governante da Armênia. Manuel Mamikonian morreu na mesma época. Diz-se que Arsaces III e sua esposa Vardanduxt deram assistência ao velho regente antes de seu falecimento. Manuel era o verdadeiro esteio político da Armênia. A posição de Arsaces III se enfraqueceu devido às ameaças de invasão persa e dos conflitos internos das belicosas famílias da nobreza armênia. O governo persa de Sapor III era tolerante para com os cristãos (Sapor II os perseguia). Isso deve ter contribuído para estabilizar as relações com os romanos bem como se conciliar com os armênios.

Partição da Armênia
Por fim, em 387, o Império Romano na pessoa do imperador Teodósio e o Império Sassânida na pessoa do rei Sapor III chegaram a um acordo. A Armênia, em turbulência após a morte de Manuel Mamikonian, estando nas mãos de um rei jovem e incapaz, tinha que ser dividida entre seus dois vizinhos mais poderosos. O processo foi facilitado pelas disputas contínuas dentro do reino, onde alguns da nobreza davam seu apoio a Arsaces III, enquanto outros preferiram um governante nomeado pelos persas. Teodósio estaria livre para dar suas atenções para o Ocidente e transferir suas tropas, agora que seu flanco oriental estaria seguro. Não obstante, o historiador armênio Vahan M. Kurkjian em sua A History of Armenia entende que essa decisão de Teodósio foi imprudente: “Os acontecimentos posteriores demonstraram falta de sabedoria de Roma em trair a Armênia. O Império era agora um vizinho imediato e alvo aberto para o ataque persa e posterior a irrupção dos árabes.” Não obstante, por causa de sua ortodoxia religiosa (católica) o imperador Teodósio está entre os santos da Igreja Armênia. Já o historiador Geoffrey B. Greatrex no artigo The Background and Aftermath of the Partition of Armenia in A.D. 387 do Boletim de História Antiga da Universidade de Ottawa entende que a divisão da Armênia removeu a maior fonte de disputa entre os dois Impérios. As tensões poderiam facilmente ter aumentado cada vez mais e além disso, resolvido esse antigo dilema, persas e romanos poderiam se dedicar a seus problemas internos. O tratado de partição da Armênia é comumente referido como Paz de Acisilene.
Pièce du règne de Shapur III
Sapor III e Teodósio
Enfim, em 387, data usualmente considerada como a da partição da Armênia, Arsaces III manteve-se no governo da Armênia Ocidental, uma porção pequena da antiga Armênia que ia de Karin (futura Teodosiópolis e atual Erzurum) até Mush (na atual Turquia) e residia em Acisilene (Ekeleac). A porção oriental foi governada por Khosrov IV, também um membro da casa dos Arsácidas, designado pelo rei sassânida. Mais tarde em 389 Arsaces III morre, sem deixar um herdeiro. Teodósio, em vez de nomear outro rei, envia ao país um comes Armeniae (conde da Armênia, governador). Assim, a Armênia Ocidental foi anexada e tornou-se uma província do Império Romano do Oriente (Bizantino). Arsaces III foi o último rei armênio vassalo do Império Romano. A monarquia armênia segue agora no lado oriental (também chamado de Persarmênia, Parskahayastan) sob a suserania dos Sassânidas onde um ramo da dinastia dos Arsácidas ainda “governará” por algumas décadas até se tornar definitivamente uma província do Império Persa.
File:Persian Armenia.gif
A Armênia após a morte de Arsaces III: a parte ocidental virou parte do Império Romano
do Oriente (Bizantino) e a oriental a chamada Persarmênia

FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Arshak_III
http://en.wikipedia.org/wiki/Vologases_of_Armenia
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Zarmandukht
http://aix1.uottawa.ca/~greatrex/armenia.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Vardanduxt
http://www.panoramio.com/photo/23311259
http://en.wikipedia.org/wiki/Roman_Armenia
http://en.wikipedia.org/wiki/Persian_Armenia
http://www.iranicaonline.org/articles/ekeleac


sábado, 23 de março de 2013

VARAZDAT (374 – 378 d.C.)

Rei Varazdat

Varazdat (armênio: Վարազդատ; latinizado: Varasdates) foi um rei da Armênia Arsácida de 374 até 378. Varazdat era sobrinho e sucessor do rei armênio anterior, Pap, que reinara de 370 a 374. Segundo Mesrop Mashtots, sacerdote cristão e historiador da vida do catholicos armênio Nerses I, Varazdat era da casa real dos Arsácidas, filho de Anob, primeiro filho do rei Arsaces II que governara a Armênia entre 350 e 368. Embora o historiador Fausto de Bizâncio (História dos Armênios, Livro IV, Capítulo 37), afirme que Varazdat se autoproclamou como o sobrinho de Pap seu relato parece confirmar que ele era neto do rei Arsaces II. Pouco se sabe sobre sua vida pregressa, mas parece ter sido criado em Roma.

Varazdat, o Atleta
Marble bust of King Ardavazt by sculptor Levon Tokmajyan installed in Olympia, Greece, in 1998.
Busto comemorativo a Varazdat
Algum tempo antes de ser rei, Varazdat participou nos Jogos Olímpicos na Grécia. Ele é frequentemente considerado como um dos últimos concorrentes das antigas Olimpíadas que foram encerradas pelo imperador romano Teodósio em 393 d.C. A vitória de Varazdat no pugilato (boxe com as mãos nuas) é registrada por Moisés de Chorene em sua História da Armênia (III,40). Tendo reinado entre 374 e 378, conjectura-se que sua vitória tenha ocorrido nos anos de 360. Varazdat é o segundo armênio registrado como tendo participado nos Jogos Olímpicos, enquanto o primeiro foi seu ancestral Tiridates III (287-330 d.C.), antes de ser rei armênio. A vitória de Varazdat também é conhecida a partir de um memorando sobrevivente que é mantido agora no Museu Olímpico, em Olímpia, na Grécia. Por uma iniciativa do Comitê Olímpico Nacional da Armênia em 8 de maio de 1998, um busto de estátua de Varazdat foi instalado na Academia Olímpica Internacional, em Olímpia, na Grécia. O escultor do busto de Varazdat foi Levon Tokmajyan.


Varazdat Rei
Roman legionary grave, ancient Artashat
Sepultura de legionário romano nas
 ruínas de Artashat, a antiga capital da Armênia
Após o assassinato de seu tio Pap, o imperador romano Valente enviou Varazdat, que vivia em Roma e era muito conhecido por seus dotes físicos e mentais, para ocupar o trono armênio como rei cliente do Império. Varazdat começou a governar sob a regência do Musel (também conhecido como Mushegh) Mamikonian, valente guerreiro e cuja família era pró-romana. O rei persa Sapor II, depois de não ter conseguido conquistar a Armênia pela traição e pela guerra, propõe a Valente, em 375, que a Armênia, que ele chamou de fonte permanente de problemas, fosse dividida entre o Império Romano e o Império Sassânida; o imperador rejeitou a proposta, mas enviou dois legados, o magister equitum Victor Magistriano e Urbício, o dux da Mesopotâmia, ao rei persa para discutir a questão. Além disso havia o problema da Ibéria Caucasiana (Kartli), país vizinho da Armênia, que estava dividido em duas partes: uma com rei com o apoio dos romanos (Saurmag II) e outra com um rei com o apoio dos sassânidas (Aspagur II). Valente considera seriamente a possibilidade de evacuar tanto a Ibéria e a Armênia para engrossar suas tropas na Trácia onde pretende enfrentar os invasores godos, mas nada foi efetivado. Enquanto isso, a condição interna da Armênia foi ameaçada pelo atrito entre o rei Varazdat e os nobres armênios. Varazdat manda assassinar a seu regente Musel Mamikonian sob a suspeita de ser pró-persa (pois parece que não matara a Sapor II quando tivera oportunidade) e de ter participado do assassinato do rei Pap. Bat Saharouni assasina o guerreiro Mamikonian em um banquete. Vace Mamikonian é feito o nome chefe do clã Mamikonian e Manuel Mamikonian é feito o novo comandante do exército. Varazdat, no campo religioso, segue a linha de seus antecessores favorecendo o arianismo no cristianismo armênio.

A Queda de Varazdat
Moeda com a efígie do imperador Valente
As negociações entre romanos e persas ficam tensas e Suren, o emissário persa, volta à corte sassânida com a mensagem de que Roma não estava disposta a negociar e iria lançar uma invasão à Pérsia na primavera seguinte, em 377. Sapor II respondeu assediando as tropas romanas no oeste da Ibéria. Entretanto, os godos se revoltaram em 377 e Valente foi forçado a negociar eventualmente a retirada das forças romanas da Armênia, a fim de usá-las contra os godos. Valente morreu lutando contra os godos em agosto de 378 durante a Batalha de Adrianópolis. A situação na Armênia se deteriorou ainda mais. Após a morte de Vace, Manuel Mamikonian pegou em armas contra Varazdat e obrigou-o a fugir da Armênia em 378, depois de quatro anos de reinado. A vida de Varazdat foi salva, mas o país foi lançado em confusão. Os persas aproveitaram o tumulto e invadiram a Armênia, mas a sua ocupação foi curta. Sapor II morreu em 379, e os persas evacuaram o país às pressas. Varazdat procurara refúgio em Roma. Valente enviou o ex-rei armênio para as ilhas britânicas onde Varazdat provavelmente morreu no exílio e a data de sua morte é desconhecida. Manuel Mamikonian formou um novo governo provisório aliado a Pérsia junto com Zarmandukht, a viúva de Pap, e seu primeiro filho Arsaces III (Arshak III). Evidências arqueológicas e as antigas fontes históricas armênia e romana do período não indicam que Varazdat tinha uma esposa ou filhos. No entanto, genealogias modernas apresentam Varazdat como sendo o pai dos reis Khosrov IV e Vramshapuh.

FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Varazdat
http://en.wikipedia.org/wiki/Varazdat
http://fr.wikipedia.org/wiki/Mou%C5%A1e%C5%82_Ier_Mamikonian
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
http://peopleofar.files.wordpress.com/2012/08/marble-bust-of-king-ardavazt-by-sculptor-levon1.jpg
http://www.panoramio.com/photo/23311681
http://www.thehistoryblog.com/wp-content/uploads/2008/04/valens.gif